quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Deambulando em algum lugar em Curitiba...



Trilhos do Vazio

Já era final de tarde, mas ainda havia bastante ruído da multidão, desço a escadaria que como um funil, ecoa, fazendo o som ainda mais evidente. Mas não é apenas o som que me desorienta, o cheiro de doce também toma conta daquele espaço. Não se enganem com o que seus olhos veem, é a antiga maria fumaça invadindo seu espaço, soltando sua nuvem para adormecê-los.
Praça, loja, restaurante, um mix de entretenimento que leva a multidão, como uma boiada que segue os trilhos sem saber seu destino. Só não entendo o que aquela farmácia faz ali, apesar da conveniência, causa estranheza. Há uma em cada esquina. Talvez a sociedade esteja adoecendo, isso explicaria o cheiro de doce, que atende a carência dos necessitados, descontrolados e sem desculpas para resistir tamanha sedução.
Os corredores são amplos - quanto mais gente melhor, mais admiradores para as vidraças que abrigam suas ofertas. Via transparente, onde há bloqueio físico em relação ao tocar... Desperta a sua visão embaçada e provoca um certo desejo. 
É o casal despojado que aponta para algo que encanta, do outro lado há crianças rindo e outras chorando, um estimulo atrás do outro, seus pais, cansados. Logo ali, um grupo de amigos na expectativa do filme que irá entretê-los, com o antigo herói redundante. A fome que em todo momento parece surgir, através do cheiro e não do que gosto, enquanto avisto uma mulher que de desgosto busca encontrar em mais um par de sapatos um pequeno alivio de seu vazio. Já uma outra, lembra precisar de algo que não precisava mais. Multidão perdida em suas profundas solidões, consumidos por aquilo que promete preenchê-los ou torná-los melhores: mais belos, populares, descontraídos, ... enfim felizes!
Mas, caminho sem destino, perdida na matéria e no espaço, não encontrando amparo nas janelas do desejo. Quem sabe não questionar, apenas entrar nos trilhos, seguir esse fluxo frenético, buscando alimentar a caldeira que consome internamente as aflições. Deixando-me levar pelo brilho da joia que enfeita, aproximando daqueles que sofrem, da orquestra desarmônica que se movimenta, como as escadas que inibem os passos.


By Sandra Kato

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